Paroxismo

(Continuação da série de posts "INVENTÁRIOS")
Na faculdade, Beth se apaixonou, certa época, por Freud. A visão fria e mecanicista do pai da psicanálise trazia para Beth um certo conforto em um mundo tão cheio de incertezas. Embora complexa e difícil de ser alcançada, a felicidade parecia algo matemático e possível na busca do equilíbrio de forças proposto por Freud.
- Pode demorar um tempão - pensava Beth - mas é possível. E se não der certo, pelo menos a gente sabe porque.
Na interprestação que Beth fazia das suas leituras de Freud, a infelicidade humana provinha de três fontes básicas.
A primeira, era porque o ser humano não consegue controlar a natureza ao seu redor, que é mais forte do que ele. E isso frusta seus desejos. E o frustra.
A segunda fonte seria o tempo cruel, que avança sem a menor possibilidade de ser detido. E o corpo humano decai, adoece e morre. E o ser humano sabe disso e nada pode fazer para controlar essa marcha.
E a terceira fonte seria a alteridade. A existência do outro como ser auto-consciente, individualizado e diferente. Um outro que não pode ser controlado, que nos contraria e decepciona.
Beth gostava dessa definição mas achava que faltava ainda uma fonte de infelicidade a ser citada. Para ela, a incapacidade de controlar a si mesmo seria a quarta e definitiva fonte de infelicidade do ser humano. E, na opinião dela, a maior fonte de frustração também.
(Continua na série de posts "INVENTÁRIOS")