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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

IMPERMANÊNCIAS 61


Mundo Pequeno

(Manoel de Barros)



O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos

Conheço de palma os dementes de rio.
Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama e de Rogaciano.
Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar no horizonte.
Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas de Corumbá.
Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas.

...

(excerto do poema "Mundo Pequeno" de "O Livro das Ignorãças")