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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 5


Smoke on the water



(Continuação da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)


O jovem multimilionário Alberto Royal, seguindo seu caminho de peregrinação em busca da parte de sua alma que misteriosamente sumira, chegou, certo dia, à cidade de Nova Lanufla. Tinha ouvido falar do famoso guru Salib Babaji-Uhh e seus poderes de transubstanciação, obnubilação e comiseração iluminista.

Alberto Royal esperou, fleumático, que a longa fila de pobres diabos à sua frente se esgotasse. Não havia comido nada nos últimos dois dias porque o caviar que trouxera na mala não lhe parecia estar na temperatura adequada. Mas agüentava firme.

Depois de três dias, entrou no “asram” do guru e prostrou-se:

- Oh, mestre, tenho em minhas ricas contas bancárias bilhões de rúfios, mas um pedaço da minha alma se foi. O que faço?

- Meu filho. O guru tudo vê. Há um caminho para a sua salvação. Mas não é fácil. Você está disposto? – perguntou o ancião coçando a barba com a ponta do rolex.

- Sim, mestre.

- Você precisa se livrar do peso terível que o oprime. De todo esse dinheiro amaldiçoado. Dessa energia negativa.

- O que faço? - perguntou, Alberto Royal, com lágrimas brilhantes correndo por seus olhos cor de ouro

- Doe aos necessitados. A Fundação Anopheles Babaji-Uh-Hu cuidará do problema para você. Basta assinar este documento transferindo todos seus bens para nós.

- E então?

- Sua alma estará plena novamente, meu filho.


(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 4


See me, feel me...



(Continuação da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)


Depois de muito andar em sua peregrinação, Billy-Bobby, o Homem Invisível, chegou à Tubesville, a cidade com o maior número de televisores e revistas de fofoca em todo o mundo. Na entrada da cidade, viu um out-door anunciando os serviços do mega-consultor de imagem e marketing-espetacular-pessoal Carter Stonewater.

- Eu posso fazer você aparecer!! – dizia o cartaz. E Billy-Bobby achou que finalmente alguém poderia ajudá-lo a se curar da invisibilidade.

O personal image trainer recebeu Billy-Bobby em seu escritório:

- Sim. Nós podemos. Nós podemos melhorar a sua imagem, fazê-la ganhar musculatura, personalidade e sex-appeal. Temos frascos de frases feitas, caixas de estilos impactantes, pílulas de poses enigmáticas e pacotes e mais pacotes de expressões faciais inesquecíveis.

Billy-Bobby encheu-se de esperanças. Passou a contar ao especialista sobre todas as suas desaparecências e insignificâncias. Lembrou dos esforços para se tornar visível, colocando piercings, fazendo tatuagens, pintando o cabelo de fúcsia-escuro, comprando roupas da moda, arranjando um bronzeado incontestável, óculos escuros de griffe, operação plástica no nariz, hálito puro e o carro mais potente do mercado.

- Tudo isso vai mudar – profetizou Carter Stonewater.

- Mudar – repetiu Billy-Bobby batendo palmas – mudar...


(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 3


Horror ao espelho



(Continuação da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

O caso de Pepita havia se dado de uma hora para outra. Foi numa tarde de sábado, no salão de beleza de dona Dolores Amparo, em Insolitópolis. Tinha chegado alguns minutos adiantada e sentou-se no sofá para ler revistas de moda e beleza.
Repentinamente, as revistas começaram a se mexer, levantaram da mesinha de centro, quase em fila indiana, e começaram a agredir Pepita. Desejavam soterrá-la - contou, mais tarde, aos incrédulos.
Dúzias de páginas com fotos de modelos, biquínis, penteados, exercícios e receitas para emagrecer vinham em sua direção, fustigando seu rosto e sua auto-estima impiedosamente. Pepita, moça de família, estudante e prendada à procura de um noivo, foi covardemente atacada sem poder se defender da avalanche de fotografias deslumbrantes que esgotavam seus sentidos, sua capacidade de discernimento e sua conta bancária.
Foi encontrada, mais tarde, perambulando pelas ruas sem saber direito o que havia acontecido. Sabia apenas de uma coisa: passara a ter verdadeiro pavor da própria imagem. Olhar-se no espelho e tirar fotografias passaram a ser atividades que lhe provocavam ataques selvagens de pânico e coceira.
Assim, Pepita decidiu partir em busca de uma solução para o seu problema, sem olhar para trás, sem levar espelho, estojo de maquiagem e nem mesmo um batonzinho.

(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

domingo, 7 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 2



Um pedaço da alma



(Continuação da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

Na grande megápole de Bizarrisburgo, vivia Alberto Royal, jovem herdeiro, magnata, dândi e gentleman de primeira linha. Certo dia, Alberto Royal acordou estranho. Sentiu que faltava algo. Abriu todos os 449 cofres de sua mansão de 800 opulentos quartos e 647 opulentos banheiros. Chamou seus 1.295 empregados e fez com eles uma completa varredura em todos os possíveis lugares de sua imensa propriedade.
Verificou que tudo estava em seu lugar. Nada faltava em seus amontoados astronômicos de riqueza quase incomensurável. Dormiu de novo e, pela manhã, mais uma vez, acordou sentindo que lhe faltava algo. Chamou seus consultores, seus médicos, modistas e alfaiates. Procurou corretores, analistas, vendedores, contadores, calculistas e banqueiros, mas ninguém – repito - ninguém, encontrou nada que lhe faltasse.
E, assim, com elegância e estoicismo, o empertigado jovem Alberto Royal deitou-se para dormir na terceira noite. Depois de um sono agitado, acordou pasmo e suado em seu leito de sedas e pedras preciosas. Descobrira o mistério: faltava-lhe um pedaço da alma. Como havia ido, quem o tinha levado e para qual paradeiro, não havia qualquer pista.
E como ele sabia que ninguém ali poderia ajudá-lo, partiu pelo mundo numa longa, nobre e valiosa jornada em busca da parte de sua alma que faltava.

(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

sábado, 6 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 1



O Homem Invisível


(Primeira parte da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

Não foi de uma só vez que Billy-Bobby descobriu que era invisível. Tudo aconteceu aos pouquinhos. Era quase ainda um bebê. Um dia, sua mãe não o ouvira. No outro, seu pai passara reto por ele.
E, naquele triste Natal, não ganhara o brinquedo que pedira. Mas, sua irmã, Jenniffer-Lee-Terezinha, recebera a mini-metralhadora que encomendara ao Papai Noel.
Depois veio aquela garota por quem Billy-Bobby era apaixonado na escola: Britney-Lou-Aparecida. Ela, em momento algum, o viu.
E Billy-Bobby foi desaparecendo aos poucos. Aos 35 anos, o problema atingiu o auge. Numa manhã fatídica, ao chegar ao escritório da NSPRC Company & Brothers Association, onde trabalhava, havia outro funcionário ocupando sua mesa. Voltou para casa e encontrou sua mulher, Pamela-Sue-Cremilda, com o marceneiro, na cama.
Ficou arrasado. Pediu ao Senhor Jesus que o ajudasse, mas o gerente da igreja disse que Ele estava muito ocupado naquele momento para atendê-lo (no fundo, Ele também não conseguia ver Billy-Bobby).
Procurou o prefeito de Ghrotesch Town City, o delegado, o deputado, o magistrado, o médico, o jardineiro, o veterinário, o boticário, o psiquiatra, o filósofo e o poeta, mas nenhum deles via cura para o seu caso.
Decidiu, então, sair pelo mundo à procura de algo ou alguém que o curasse dessa invisibilidade.

(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)