Mostrando postagens com marcador Eduardo Galeano. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Eduardo Galeano. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 55



A arte e o tempo

(Eduardo Galeano)




Quem são os meus contemporâneos? - pergunta-se Juan Gelman.

Juan diz que às vezes encontra homens que têm cheiro de medo em Buenos Aires, em Paris, ou em qualquer lugar, e sente que estes homens não são seus contemporâneos. Mas existe um chinês que há milhares de anos escreveu um poema sobre um pastor de cabras que está longe, muito longe da mulher amada e, mesmo assim, pode escutar, no meio da noite, no meio da neve, o rumor do pente em seus cabelos; e lendo esse poema remoto, Juan comprova que sim, que eles sim: que esse poeta, esse pastor e essa mulher são seus contemporâneos.


De "O Livro dos Abraços"

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 9


O Mundo

Eduardo Galeano (de O Livro dos Abraços)

"Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir ao céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
- O mundo é isso - revelou.
- Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo. "