terça-feira, 30 de dezembro de 2008

IMPERMANÊNCIAS 64


Music Swims Back to Me

(Anne Sexton)



...

Imagine it. A radio playing
and everyone here was crazy.
I liked it and danced in a circle.
Music pours over the sense
and in a funny way
music sees more than I.
I mean it remembers better;
remembers the first night here.
It was the strangled cold of November;
even the stars were strapped in the sky
and that moon too bright
forking through the bars to stick me
with a singing in the head.
I have forgotten all the rest.

...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 63


Navalha de Ockham




"The main thing that I learned about conspiracy theory is that conspiracy theorists actually believe in a conspiracy because that is more comforting. The truth of the world is that it is chaotic. The truth is, that it is not the Jewish banking conspiracy or the grey aliens or the 12 foot reptiloids from another dimension that are in control. The truth is more frightening, nobody is in control. The world is rudderless."

(Alan Moore)

domingo, 28 de dezembro de 2008

sábado, 27 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 6


El dia que me queira



(Continuação da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)


Pepita Gonzales caminhou pelas estradas fugindo de sua própria imagem durante dias. Quando passava por alguma pequena cidade, evitava as vitrines onde, muitas vezes, o vidro refletia seu rosto e seu corpo. Estava triste, se sentia só, faminta, gorda e com a sobrancelha malfeita.

Só se sentiu melhor quando parou em frente aos enormes portões do Spa Beleza Beautifull, com seus jardins cheios de flores e atendentes cheias de sorrisos. Ali, pensou Pepita, poderia se tornar uma pessoa digna de ser olhada. Poderia tirar novas fotos e espalhá-las pela internet nos seus perfis de Orkut, My Space, Flickr, Facebook, Twitter, Crapshook e muito mais.

A grã-esteticista do Spa Beleza Beatifull, Donana Marzipan, era uma mulher ocupada, mas abriu um pequeno espaço em sua agenda Hello Kitty para receber Pepita.

- O mais importante é a beleza interior – observou Donana, lixando a pontinha da unha do dedo indicador que lhe pinicava cada vez que ela coçava o ouvido.

- É mesmo? – duvidou Pepita.

- Mas como ninguém enxerga mesmo dentro de você, a não ser o operador de raio-x, vamos fazer alguma coisa para melhorar esse visual.

- O quê, o quê?

- Alinhamento de silicone, botox retrofacial, peeling ornamental, buço permanente, chapinha balinesa e depilação ergométrica.

- Uau – suspirou a moça, já se imaginando toda repaginada.


(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)


sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

IMPERMANÊNCIAS 63


Os olhos



"Quem luta contra monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E, se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olhará para dentro de ti"

(Nietzsche)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 62


Interiores



Fechado em sua concha áspera, mas sem nunca deixar de ouvir o rugido do mar revolto lá fora, Antonio prosseguia seu trabalho no casarão. Fazia suas refeições em separado. Muitas vezes, até, fechado em seu quarto, conversando apenas com Laura, quando queria algo da casa, e com Augusto, nas horas de trabalho. Nestes dias não via Letícia, nem Theodoro, nem Arthur, numa vida quase monástica.


Lia muito. Levava os jornais para o quarto à noite e pegava muitos livros da imensa biblioteca de Augusto Orsini. Mas fugia de temas que o fizessem pensar demais. Gostava de biografias antigas e livros de história, fazendo do passado antigo a maior parte do seu presente.


O inverno de Curitiba era frio e seco, com belas manhãs de sol. Nos finais de semana, saía a caminhar pela cidade. Andava um pouco de bonde. Via centenas de rostos diferentes. Eram pessoas que viviam e quantas - ele pensava - não estavam mortas e enterradas como ele. Quantas haviam escolhido, como ele, aquele caminho. E quantas, também como ele, não haviam sido levadas a isto pela vida.


Mas a maior parte das pessoas parecia feliz e, portanto, não sentia a mesma dor incômoda. Que tipo de droga anestésica milagrosa - pensava - poderia fazer isso? Será que havia alguma forma de apagar isso, como quem apaga um lampião de gás. Seria conformismo? Será que todos já sabiam mesmo que a vida era apenas uma dor transmitida de geração em geração, ou ele era o único no mundo a se sentir daquele jeito?


Parou em frente à banca de jornal e leu algumas manchetes. Havia muita desgraça e nenhuma notícia que pudesse considerar boa. Pensou que havia gente com muito mais problemas e dor do que ele. Havia morte, doenças, miséria, guerra, violência e o roubo deslavado da política. Havia desencontros, filhos que perdem os pais, amores que se separam, fortunas que se dissolvem da noite para o dia, desgraças de todo o tipo. Havia fome, medo, desesperança e solidão. Mas não havia ninguém que sentisse o que ele sentia. Não havia ninguém que se sentisse tão inútil e tão perdido em sua própria vida. Pelo menos era o que os jornais diziam.


(trecho do romance inédito "O Castelo da Não Existência")


quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

IMPERMANÊNCIAS 62


Alma entreaberta




"A alma deveria estar sempre entreaberta,
de tal forma que se o céu a solicitasse,
ele não tivesse que ser obrigado a esperar".
(Emily Dickinson)


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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 61

And so...

So this is Christmas
and what have you done...

(e quando começa a tocar a versão de Simone - Socorro!!!!!!!)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

IMPERMANÊNCIAS 61


Mundo Pequeno

(Manoel de Barros)



O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos

Conheço de palma os dementes de rio.
Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama e de Rogaciano.
Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar no horizonte.
Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas de Corumbá.
Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas.

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(excerto do poema "Mundo Pequeno" de "O Livro das Ignorãças")

sábado, 20 de dezembro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 60



Tudo


Tudo o que há de vago em teu olhar
É o que me afaga

...

IMPERMANÊNCIAS 60


Tudo



O que há de vasto em teu olhar
É que o que me basta

...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 5


Smoke on the water



(Continuação da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)


O jovem multimilionário Alberto Royal, seguindo seu caminho de peregrinação em busca da parte de sua alma que misteriosamente sumira, chegou, certo dia, à cidade de Nova Lanufla. Tinha ouvido falar do famoso guru Salib Babaji-Uhh e seus poderes de transubstanciação, obnubilação e comiseração iluminista.

Alberto Royal esperou, fleumático, que a longa fila de pobres diabos à sua frente se esgotasse. Não havia comido nada nos últimos dois dias porque o caviar que trouxera na mala não lhe parecia estar na temperatura adequada. Mas agüentava firme.

Depois de três dias, entrou no “asram” do guru e prostrou-se:

- Oh, mestre, tenho em minhas ricas contas bancárias bilhões de rúfios, mas um pedaço da minha alma se foi. O que faço?

- Meu filho. O guru tudo vê. Há um caminho para a sua salvação. Mas não é fácil. Você está disposto? – perguntou o ancião coçando a barba com a ponta do rolex.

- Sim, mestre.

- Você precisa se livrar do peso terível que o oprime. De todo esse dinheiro amaldiçoado. Dessa energia negativa.

- O que faço? - perguntou, Alberto Royal, com lágrimas brilhantes correndo por seus olhos cor de ouro

- Doe aos necessitados. A Fundação Anopheles Babaji-Uh-Hu cuidará do problema para você. Basta assinar este documento transferindo todos seus bens para nós.

- E então?

- Sua alma estará plena novamente, meu filho.


(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 59


Hereafter




"Biography lends to death a new terror"
(Oscar Wilde)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

IMPERMANÊNCIAS 59



Sufi
(Rumi)



Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.

..................................

À noite, pedi a um velho sábio
que me contasse todos os segredos do universo.
Ele murmurou lentamente em meu ouvido:
- Isto não se pode dizer, isto se aprende.


...

sábado, 13 de dezembro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 58



Teu Segredo
(Clarice Lispector)





Flores envenenadas na jarra. Roxas azuis, encarnadas, atapetam o ar. Que riqueza de hospital. Nunca vi mais belas e mais perigosas. É assim então o teu segredo. Teu segredo é tão parecido contigo que nada me revela além do que já sei. E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu. Assim como tu és o meu.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 4


See me, feel me...



(Continuação da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)


Depois de muito andar em sua peregrinação, Billy-Bobby, o Homem Invisível, chegou à Tubesville, a cidade com o maior número de televisores e revistas de fofoca em todo o mundo. Na entrada da cidade, viu um out-door anunciando os serviços do mega-consultor de imagem e marketing-espetacular-pessoal Carter Stonewater.

- Eu posso fazer você aparecer!! – dizia o cartaz. E Billy-Bobby achou que finalmente alguém poderia ajudá-lo a se curar da invisibilidade.

O personal image trainer recebeu Billy-Bobby em seu escritório:

- Sim. Nós podemos. Nós podemos melhorar a sua imagem, fazê-la ganhar musculatura, personalidade e sex-appeal. Temos frascos de frases feitas, caixas de estilos impactantes, pílulas de poses enigmáticas e pacotes e mais pacotes de expressões faciais inesquecíveis.

Billy-Bobby encheu-se de esperanças. Passou a contar ao especialista sobre todas as suas desaparecências e insignificâncias. Lembrou dos esforços para se tornar visível, colocando piercings, fazendo tatuagens, pintando o cabelo de fúcsia-escuro, comprando roupas da moda, arranjando um bronzeado incontestável, óculos escuros de griffe, operação plástica no nariz, hálito puro e o carro mais potente do mercado.

- Tudo isso vai mudar – profetizou Carter Stonewater.

- Mudar – repetiu Billy-Bobby batendo palmas – mudar...


(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

IMPERMANÊNCIAS 58



Nutshell



Hamlet:
- O God, I could be bounded in a nutshell, and count myself a
king of infinite space—were it not that I have bad dreams.

(William Shakespeare)


King
...
And you're sick to your stomach
At the sound of your voice
And the shape of your face
And the sound of your name
They send you pictures of yourself
It's someone you don't know
And they call you a genius
Cause you're easier to sell
But the fire in your belly
That gave you the songs
Is suddenly gone
And you feel like a fake
Is that what you want?
...

(Marillion)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 3


Horror ao espelho



(Continuação da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

O caso de Pepita havia se dado de uma hora para outra. Foi numa tarde de sábado, no salão de beleza de dona Dolores Amparo, em Insolitópolis. Tinha chegado alguns minutos adiantada e sentou-se no sofá para ler revistas de moda e beleza.
Repentinamente, as revistas começaram a se mexer, levantaram da mesinha de centro, quase em fila indiana, e começaram a agredir Pepita. Desejavam soterrá-la - contou, mais tarde, aos incrédulos.
Dúzias de páginas com fotos de modelos, biquínis, penteados, exercícios e receitas para emagrecer vinham em sua direção, fustigando seu rosto e sua auto-estima impiedosamente. Pepita, moça de família, estudante e prendada à procura de um noivo, foi covardemente atacada sem poder se defender da avalanche de fotografias deslumbrantes que esgotavam seus sentidos, sua capacidade de discernimento e sua conta bancária.
Foi encontrada, mais tarde, perambulando pelas ruas sem saber direito o que havia acontecido. Sabia apenas de uma coisa: passara a ter verdadeiro pavor da própria imagem. Olhar-se no espelho e tirar fotografias passaram a ser atividades que lhe provocavam ataques selvagens de pânico e coceira.
Assim, Pepita decidiu partir em busca de uma solução para o seu problema, sem olhar para trás, sem levar espelho, estojo de maquiagem e nem mesmo um batonzinho.

(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

domingo, 7 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 2



Um pedaço da alma



(Continuação da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

Na grande megápole de Bizarrisburgo, vivia Alberto Royal, jovem herdeiro, magnata, dândi e gentleman de primeira linha. Certo dia, Alberto Royal acordou estranho. Sentiu que faltava algo. Abriu todos os 449 cofres de sua mansão de 800 opulentos quartos e 647 opulentos banheiros. Chamou seus 1.295 empregados e fez com eles uma completa varredura em todos os possíveis lugares de sua imensa propriedade.
Verificou que tudo estava em seu lugar. Nada faltava em seus amontoados astronômicos de riqueza quase incomensurável. Dormiu de novo e, pela manhã, mais uma vez, acordou sentindo que lhe faltava algo. Chamou seus consultores, seus médicos, modistas e alfaiates. Procurou corretores, analistas, vendedores, contadores, calculistas e banqueiros, mas ninguém – repito - ninguém, encontrou nada que lhe faltasse.
E, assim, com elegância e estoicismo, o empertigado jovem Alberto Royal deitou-se para dormir na terceira noite. Depois de um sono agitado, acordou pasmo e suado em seu leito de sedas e pedras preciosas. Descobrira o mistério: faltava-lhe um pedaço da alma. Como havia ido, quem o tinha levado e para qual paradeiro, não havia qualquer pista.
E como ele sabia que ninguém ali poderia ajudá-lo, partiu pelo mundo numa longa, nobre e valiosa jornada em busca da parte de sua alma que faltava.

(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

sábado, 6 de dezembro de 2008

IRIDESCÊNCIAS 1



O Homem Invisível


(Primeira parte da série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

Não foi de uma só vez que Billy-Bobby descobriu que era invisível. Tudo aconteceu aos pouquinhos. Era quase ainda um bebê. Um dia, sua mãe não o ouvira. No outro, seu pai passara reto por ele.
E, naquele triste Natal, não ganhara o brinquedo que pedira. Mas, sua irmã, Jenniffer-Lee-Terezinha, recebera a mini-metralhadora que encomendara ao Papai Noel.
Depois veio aquela garota por quem Billy-Bobby era apaixonado na escola: Britney-Lou-Aparecida. Ela, em momento algum, o viu.
E Billy-Bobby foi desaparecendo aos poucos. Aos 35 anos, o problema atingiu o auge. Numa manhã fatídica, ao chegar ao escritório da NSPRC Company & Brothers Association, onde trabalhava, havia outro funcionário ocupando sua mesa. Voltou para casa e encontrou sua mulher, Pamela-Sue-Cremilda, com o marceneiro, na cama.
Ficou arrasado. Pediu ao Senhor Jesus que o ajudasse, mas o gerente da igreja disse que Ele estava muito ocupado naquele momento para atendê-lo (no fundo, Ele também não conseguia ver Billy-Bobby).
Procurou o prefeito de Ghrotesch Town City, o delegado, o deputado, o magistrado, o médico, o jardineiro, o veterinário, o boticário, o psiquiatra, o filósofo e o poeta, mas nenhum deles via cura para o seu caso.
Decidiu, então, sair pelo mundo à procura de algo ou alguém que o curasse dessa invisibilidade.

(Continua na série de posts “IRIDESCÊNCIAS”)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

IMPERMANÊNCIAS 57


Excesso de Companhia

(Carlos Drummond de Andrade)




Os anjos cercavam Marilda, um de cada lado, porque Marilda ao nascer ganhou dois anjos da guarda.

Em vez de ajudar, atrapalhou. Um anjo queria levar Marilda a festas, o outro à natureza. Brigavam entre si, e a moça não sabia a qual deles obedecer. Queria agradar aos dois, e acabava se indispondo com ambos.

Tocou-os de casa. Ficou sozinha, sem apoio espiritual mas também sem confusão. Os dois vieram procurá-la, arrependidos, pedindo desculpas.

Só aceito um de cada vez. Passa uns tempos comigo, depois mando embora, e o outro fica no lugar. Dois anjos ao mesmo tempo é demais.

Agora Marilda é o anjo da guarda dos seus anjos, um de cada vez.


...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 56


Haicai

(Bashô)




Doente da viagem,
Meus sonhos perambulam
Pelo campo seco


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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

IMPERTINÊNCIAS 55



A arte e o tempo

(Eduardo Galeano)




Quem são os meus contemporâneos? - pergunta-se Juan Gelman.

Juan diz que às vezes encontra homens que têm cheiro de medo em Buenos Aires, em Paris, ou em qualquer lugar, e sente que estes homens não são seus contemporâneos. Mas existe um chinês que há milhares de anos escreveu um poema sobre um pastor de cabras que está longe, muito longe da mulher amada e, mesmo assim, pode escutar, no meio da noite, no meio da neve, o rumor do pente em seus cabelos; e lendo esse poema remoto, Juan comprova que sim, que eles sim: que esse poeta, esse pastor e essa mulher são seus contemporâneos.


De "O Livro dos Abraços"

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

IRREVERÊNCIAS 1


Xodó e Filó




PS.: Agradecimentos a Flávia Marinho pelos gatinhos e a Glória Galembeck pela frase.