QUADRINHAMas e o que é, então, o amor?
Senão coisa vária e múltipla
Sem rosto, identidade e fé,
Sem endereço ou sobrenome,
Sem preço, sem cargo e dono,
Tanto cruel quanto sublime,
É acolhimento e abandono.
Há os que amam pouco
E os que muito amam.
Há os que a todos o dizem
E, se enganando, enganam.
Há os que não amam nunca
E sofrem mesmo sem sofrer.
Há os que amam sempre
E já não sabem escolher.
Há os que não têm medo
E aqueles que fogem de tudo.
Há o tipo de amor eloqüente
E aquele que, de repente,
Perde a fala e fica mudo.
E o amor ruidoso de verdade,
Que, cego e também surdo,
Em chama silenciosa arde.
E o que é esse tal amor?
Que é sempre o mesmo
E em tempo nenhum igual.
Predestinado ou a esmo
Pode ser o bem ou o mal,
Pode ser delícia e ser dor,
E a única garantia é a de que
Não há meio termo no amor.
Há os que pensam que amam
E há os que amam e pensam
E estes não sabem amar.
Mas os que amam mais são
Aqueles de coração leve,
Que sentem e nem percebem
Navalha que o peito lhes abre.
Há os que nunca choraram
E os que nunca disseram adeus.
Há os que nunca o perderam
E os que nunca tiveram de seu.
Há os que afirmam não ligar,
Os que juram estar a salvo.
Imaginam ficar escondidos
Mas são flecha, arco e alvo.
E, afinal, o que é o amor?
Chama, luz ou tormento,
Iaiá, ioiô, paraíso e nirvana,
Ou o inverso do esquecimento?
Delícia de reis e mendigos,
È carcereiro ou é libertador?
Quem souber explicar, então,
Que me diga o que é o amor
Wilson Gasino