There Will Be Blood
Só fui ver “Sangue Negro” (There Will Be Blood), de Paul Thomas Anderson, depois do Oscar. Já tinha visto o grande vencedor “Onde os Fracos Não Tem Vez” (No Country For The Old Man).
Na realidade, gostei mais de Sangue Negro. Os dois filmes tem bom roteiro, boa direção bom elenco, e, principalmente, um grande personagem interpretado por um excelente ator, que acaba levando o filme. Javier Bardem faz o psicopata Anton Chigur e Daniel Day-Lewis o ambicioso “oil-man” Daniel Plainview.
Nenhum dos dois filmes traz uma linguagem nova em termos de cinema: um thriler nervoso e um drama convencional, os dois com final infeliz. Mas Sangue Negro me pareceu mais bem construído e finalizado. Talvez eu seja muito conservador ou ignorante em termos de cinema. Ou, talvez, simplesmente porque eu tenha achado espetacular a atuação de Day-Lewis. E é realmente muito bom ver a atuação desse grande ator (bissexto no cinema) que se desenvolve até nos detalhes mínimos da postura corporal. Muito bom.
Sai capeta
Outro ponto interessante de Sangue Negro, é aquele garoto de cara esquisita (Paul Dano) que faz papel de Edir Macedo quando jovem. Muito bom também.
Os dois fazem um contraponto bacana. Cada um com a sua visão dogmática da vida. Levando até as últimas conseqüências esse comportamento no aspecto externo, e vivendo, simultaneamente, imensas dúvidas por dentro.
A melhor mensagem do filme é justamente essa: a realidade não se amolda a certezas absolutas, a caminhos inflexíveis, a dogmatismos inquebrantáveis.
Cada um busca o poder de uma forma diferente: o dinheiro ou a fé cega. Mas o mundo não é tão simples assim. A dúvida monstruosa vai crescendo por dentro, e quanto maior ela é, mais forte se torna a necessidade de – pela força, pelo discurso ou pelo dinheiro – tentar amoldá-la ao que se quer provar.
E sempre há o momento da quebra. Que pode ser um momento de aprendizado, de ruptura e abertura, ou pode servir apenas para tornar ainda mais altos e mais largos os muros à volta.
Na realidade, a única coisa que o ser humano busca sempre é ser amado. O que varia são as formas de buscar isso e a confusão que as pessoas fazem entre o meio e o fim. Ou seja, se inicialmente a busca do poder é uma forma de tentar ser amado/admirado, muita gente que entra nesse caminho acaba confundindo as coisas. E, no fim, acaba pensando que o que está buscando realmente é o poder pelo poder.
Elizabeth
Sobre Elizabeth – The Golden Age, apenas uma observação: a transposição totalmente intempestiva da discussão sobre tolerância religiosa e dominação política. Fica totalmente artificial. Achei bacana ver no filme o pirata/soldado/comerciante Sir Walter Raleigh, que eu já tinha citado aqui no blog comentando os livros “Mr. Vertigo” de Paul Auster e “Código da Vida” de Saulo Ramos (no post "Impermanências 2").
Juno
Já em relação a Juno, também me senti um pouco decepcionado depois de tanta expectativa. A atriz Ellen Page realmente faz um bom trabalho e o resultado é uma garota semi-histérica, irritante, que não para de falar e acha que sabe tudo mais do que os outros. Mas ela faz um caminho interessante em busca da sua própria ternura. “Try a litle tenderness”. E acaba conquistando a gente.
O filme é bonitinho, engraçado e ótimo como entretenimento. Na minha modesta visão, o que o diferencia das demais comédias adolescentes que invariavelmente acabam indo parar (sendo eternamente reprisadas) na Sessão da Tarde é justamente a atuação da atriz e o ritmo alucinante da personagem (mérito do roteiro ganhador do Oscar).
Gostei do final. Gosto de finais felizes. Os dois tocando violando e cantando juntos na calçada. É bom sair do cinema assim, não é?